Título original encaminhado: “A Próxima Década do Ethereum: De ‘Computador Verificável’ a ‘Propriedade da Internet’”
No Ethereum Devconnect ARG, Fede, fundador da LambdaClass, fez uma apresentação marcante e provocadora. Ele superou o conceito tradicional de “computador mundial” e redefiniu o Ethereum como o primeiro “computador verificável” da história. Fede defendeu que a antifragilidade exclusiva do Ethereum—baseada em matemática e incentivos econômicos, não em confiança—é o alicerce fundamental para instaurar direitos de propriedade digital e sustentar uma economia global de trilhões de dólares.
Não se tratou de uma comemoração, mas sim de um alerta incisivo. Com o avanço de blockchains de alta performance como Solana, Fede alertou que a comunidade Ethereum corre sério risco de “morte por complacência”. Ele criticou a “prosperidade ilusória” da maioria das L2s, que “mal funcionam”, e classificou a experiência do desenvolvedor em Solidity como “dar um tiro no próprio pé”. Fede convocou a comunidade a romper sua bolha e resgatar a ambição e o espírito combativo da “Idade do Bronze”. Citando um ex-CEO da Intel, reforçou: no universo implacável da tecnologia, “Só os paranoicos sobrevivem.”
Ao elevar o desempenho para 1 Gigagas e desenhar a visão do Lean Ethereum, Fede mesclou profundidade técnica e paixão genuína para mostrar como o Ethereum pode preservar sua liderança na próxima década. Mais que um roadmap técnico—um manifesto contra a mediocridade.
Confira os principais pontos da palestra.
Palestrante: Fede (LambdaClass)
Hoje, vou abordar a próxima década do Ethereum: de “computador verificável” à “economia global”.

Na minha perspectiva, Ethereum é um computador verificável.
Nunca fui adepto do meme “computador mundial”. Considero AWS ou Google os verdadeiros “computadores mundiais”—dispõem de recursos e infraestrutura gigantescos, mas exigem confiança. O diferencial do Ethereum está na verificabilidade.
O Ethereum é o primeiro computador do mundo em que a computação dispensa confiança—depende apenas de incentivos econômicos e matemática. Isso dá ao Ethereum uma vantagem concreta sobre AWS ou Google Cloud. Serviços de nuvem convencionais se baseiam em confiança, mas ela pode ser rompida.
Recentemente, vi no Twitter que alguém invadiu o Bing e alterou rankings de filmes. Ao buscar “dez melhores filmes”, os resultados estavam manipulados. Nesse cenário, você confia no hacker. Isso jamais acontece no Ethereum, salvo se toda a rede for comprometida—o que é extremamente difícil, pois seria preciso violar múltiplas equipes e clientes, e todos podem acompanhar o ataque em tempo real.
Isso torna o Ethereum antifrágil. Seja atacado por governos ou hackers privados, cada investida só reforça o Ethereum, pois ele segue operando e protegendo grandes volumes de capital.
O computador verificável inaugura direitos reais de propriedade digital.
O Ethereum já construiu uma economia robusta. Não se trata apenas de um market cap de US$300 bilhões—stablecoins processam hoje US$3 trilhões em transações mensais, três vezes mais que a Visa.
A principal vantagem do Ethereum sobre Visa ou NYSE é a composabilidade. Todos os ativos, fundos e obras de arte estão em um só ecossistema e podem ser trocados instantaneamente, gerando um ciclo virtuoso. Nesse sentido, o Ethereum é menos fragmentado que os mercados globais, pois opera sem interrupção.
O PMF atual do Ethereum se resume a:
Para manter a liderança nos próximos dez anos, preciso expor algumas questões técnicas. Eis os desafios que identifico:
Estamos desenvolvendo o cliente Ethrex na LambdaClass. Minha equipe relatou que estamos apenas 10% atrás do Reth em performance. Fora Nethermind, Reth, Geth e nós, a maioria dos clientes sofre com desempenho.
Se não elevarmos os requisitos de hardware para validadores, será difícil competir com Solana.
Isso levanta um ponto sensível: Gas Limit. Por três anos, optamos por não aumentar o Gas Limit, o que nos atrasou. Acredito que podemos acelerar sem perder verificabilidade. Antes era tabu, mas para competir, precisamos avançar. Se as demais camadas de execução não acompanharem, não podemos esperar. O Ethereum é maior que qualquer equipe.
Venho refletindo: O ideal é que todos rodem um nó residencial com Raspberry Pi de US$50? Não sei. Talvez baste que o custo de verificação seja baixo (alguns milhares de dólares ou até poucos dólares), sem exigir barreira mínima extrema.
Defendo que o Gas Limit seja aumentado em 100x. Quanto mais barato, mais usuários entram. O YouTube só surgiu após o aumento da banda larga.
Sou entusiasta do RISC-V—não gosto de Solidity. Solidity não define o Ethereum. Embora tenha contribuído, apresenta sérios problemas. O RISC-V deveria ser o padrão.
Na Layer 2: Sinceramente, a maioria dos stacks L2 mal funciona. Se você clonar o repositório e tentar rodar, está quebrado. O incentivo atual é “lançar token, abandonar e esperar morrer”. Se você acredita em roadmap centrado em rollups, é preciso simplificar ao máximo a execução. Estamos trabalhando para que o Ethrex rode L2 com um comando.
Recentemente, a AWS caiu e alguns rollups também. Isso é um problema. A comunidade Solana ironizou, e com razão. Precisamos avançar para o “Stage 2”—sequenciadores descentralizados, Based Rollups (usando pipelines L1 para construir L2) e tecnologias como CommitBoost para pré-confirmações.
Recebi alertas de advogados sobre grandes riscos, então o tema é pessoal. Precisamos apoiar todos os desenvolvedores de privacidade (Roman, Alexei, equipe Samurai Wallet). Se quero que minha mãe use Ethereum, ela não quer suas transações expostas. As regras de privacidade para desenvolvimento são incertas—devemos lutar juntos.
Há pouquíssimos mantenedores do compilador Solidity—um ou dois no GitHub. É a linguagem mais crítica do Ethereum, mas enfrenta riscos sérios por falta de equipe. A sintaxe é simples, mas vulnerabilidades são facilmente inseridas. Trabalhei com mais de 20 linguagens e, em Solidity, muitas vezes parece autodestrutivo. Precisamos de compiladores melhores ou soluções como RISC-V ZKVM.
Estamos colaborando com Justin Drake para criar o Lean Ethereum. Em relação ao Bitcoin, o Ethereum tem grande vantagem para implementar criptografia pós-quântica—suporta múltiplos clientes e possui uma comunidade mais aberta, mesmo quando isso exige decisões ousadas.
Sou defensor do Ethereum—minha empresa depende dele—mas preciso ser direto:
Não apenas criticamos—construímos:

P: Como você vê o Devconnect na Argentina neste momento?
Estou muito feliz. É incrível. Minha mãe esteve presente—finalmente entende meu trabalho. Estou animado para mostrar ao mundo o que estamos construindo.
P: Qual a iniciativa mais relevante hoje?
Lean Ethereum. Nunca me importei com o meme “Ultrasound Money”, mas o Lean Ethereum é como uma catedral. Quando Justin Drake e eu visitamos uma catedral em Cambridge, ele perguntou: “Você acha que olharão para o design do Ethereum daqui a 500 anos como olham para esta catedral?” Respondi: “Sim—e você é um dos arquitetos.”
P: Quanto o Gas Limit pode crescer no curto prazo?
Graças à engenharia excepcional da Nethermind (embora eu não goste de C#) e ao nosso trabalho com Reth, acredito que podemos alcançar 300–400 Megagas em bons servidores. Com a evolução tecnológica, queremos chegar a 1 Gigagas nos próximos anos.
P: Você já conversou desde autoridades até desenvolvedores. O que eles têm em comum?
Mesmo quem não entende Ethereum—realeza, bilionários—sabe que é “o negócio real”. Confiam nos “nerds” porque nos movemos por algo maior que dinheiro. Veem o Ethereum como líder do futuro.
P: Qual conselho para jovens construtores?
Não busque investimento antes do product-market fit. Capital é só combustível—relacionamentos e visão importam mais. Trabalhe com pessoas éticas, apaixonadas e que querem impactar positivamente a sociedade. Construa algo que lhe dará orgulho daqui a dez anos.





