A atuação da Reserva Federal desta vez foi verdadeiramente um exemplo de manual em mudança de postura. No início de novembro ainda faziam pose de duros, dizendo que não iam baixar as taxas de juro, mas no final do mês suavizaram logo, lançando todo o tipo de sinais dovish. Vou ser direto — em dezembro a descida das taxas é garantida, aquela expectativa de mais de 80% do mercado não surgiu do nada, isto já não tem grande suspense.

Na verdade, esta ronda de subida dos juros também não foi muito complexa. Nos últimos dois anos, o dólar disparou as taxas de juro para atrair o dinheiro do mundo inteiro para os EUA. A lógica é simples: com as taxas altas nos EUA, quem é que não quer trocar a sua moeda por dólares para ganhar juros? Esse capital todo que entrou não ficou parado, entrou no sistema bancário, fluiu para o mercado de obrigações, rodou pelas várias instituições financeiras e, no fim, empurrou as bolsas norte-americanas para cima. Enquanto o resto da economia mundial anda a cambalear, as bolsas americanas vão de vento em popa — no fundo, isto é uma prosperidade falsa, sustentada a sugar o sangue do mundo inteiro.

Mas subir juros é sempre um tiro que sai caro para todos. Depois de dois anos, os efeitos secundários vieram todos ao de cima: com taxas tão altas, que empresa real se atreve a investir ou expandir? A economia começou a fraquejar, o desemprego subiu, os próprios EUA já quase não aguentam mais. Baixar as taxas? Não é opcional, é obrigatório.

O mais irónico é que a Reserva Federal queria, com juros altos, deitar abaixo a economia de alguns países mais pequenos e, quando chegasse a hora de baixar as taxas, aproveitar para comprar-lhes os melhores ativos. O resultado? Desta vez nem sequer conseguiram atingir esse objetivo, e ainda se meteram numa situação difícil. Agora, baixar ou não baixar já não é uma escolha.