Nestes últimos dias, o mercado de obrigações do Japão entrou em ebulição. Os números falam por si: o rendimento das obrigações a dois anos ultrapassou a fasquia de 1% pela primeira vez em 17 anos; as obrigações a cinco anos dispararam para 1,345%, um novo máximo desde junho de 2008; e as obrigações a 30 anos foram ainda mais longe, atingindo momentaneamente 3,395%, reescrevendo a história.

Isto não é um assunto simples. Entre 2010 e 2023, o rendimento das obrigações japonesas a dois anos esteve praticamente preso entre -0,2% e 0,1%, sem grande variação. Nessa altura, pedir dinheiro emprestado no Japão era praticamente como receber dinheiro do céu — os juros eram tão baixos que, por vezes, até era o banco a pagar.

Como se chegou a este ponto? É preciso recuar a 1990. Nesse ano, rebentou a bolha económica japonesa e, desde então, o país caiu num ciclo de deflação do qual nunca conseguiu sair — os preços não subiam, os salários estagnavam e as famílias mantinham o dinheiro guardado, sem consumir. O Banco do Japão entrou em pânico e lançou as medidas mais agressivas do mundo: taxa de juro zero, taxa de juro negativa, YCC (controlo da curva de rendimentos)… fez tudo para baixar ao máximo o custo do dinheiro e tentar reanimar o mercado.

Mas agora? O guião mudou completamente. Os rendimentos passaram de negativos a positivos, chegaram aos 1%, e isto não é apenas um problema do Japão. Todo o mercado financeiro global vai sentir o impacto.

O primeiro efeito imediato é uma grande reviravolta na política monetária. Taxas zero, taxas negativas, YCC — tudo isso ficou para trás. O Japão deixou de ser a “exceção” mundial de juros ultra-baixos, e a era da política monetária expansionista chegou definitivamente ao fim.